Por André Moreira
O ano de 2022 foi marcado por alguns fatos que estão indo na contramão da evolução tecnológica do mundo, principalmente quando falamos sobre o ESG. As decisões tomadas por líderes de estados americanos podem afetar (e muito) a economia global e a agenda de descarbonização proposta pela Organização das Nações Unidas. Vamos entender um pouco melhor o que é o movimento Anti-ESG?
Os ataques às evoluções
Em julho deste ano, o governador da Flórida, Ron DeSanti, praticamente “declarou guerra” ao ESG, sigla em inglês para Environment, Social and Governance. Durante um discurso na cidade de Tampa (FL), DeSanti expôs fatos que ele considera uma grave ameaça à economia dos Estados Unidos e à liberdade norte-americana.
A batalha de DeSanti tem como principais alvos empresas, bancos e grandes gestores que, segundo ele, usam seu poder econômico e influência para impor uma ideologia chamada “woke” na sociedade.
O termo Woke, além de passado do verbo Wake (acordar) em inglês, tornou-se uma gíria muito forte dentro do movimento negro nos Estados Unidos durante a década de 1960. Ele era usado para aqueles que são autoconscientes, questionando os paradigmas de raça, cor e etnia, e lutando por uma sociedade mais igualitária.
DeSanti não está sozinho nessa luta. No Texas do republicado Greg Abbott, o tesoureiro de seu governo anunciou uma lista de dez instituições e mais de 300 fundos que, segundo sua avaliação, promovem um “boicote” às empresas de energia fósseis. Segundo a nova lei anti-ESG do estado do Texas, a Senate Bill 13, as empresas de financiamento serão obrigadas a afirmar que não irão excluir as empresas de energia, seja de qualquer fonte que for (carvão, petróleo ou gás).
Além de Abbott, o proponente à Casa Branca em 2024, Mike Pence, é uma das vozes mais ativas desse movimento. Em editorial publicado em maio de 2022 no The Wall Street Journal, Pence criticou de forma veemente as práticas de ESG.
“Em 2022, a esquerda caviar (…) colocou em movimento uma estratégia para impor sua agenda ambiental e social radical nas empresas de capital aberto. (…) Tal mudança é inteiramente fabricada por um punhado de financistas poderosos de Wall Street que promovem metas ambientais, sociais e de governança (ESG) de esquerda e ignoram os interesses das empresas e seus funcionários”, escreveu Pence em seu editorial.
“ESG é uma estratégia perniciosa, porque permite à esquerda realizar o que nunca poderia alcançar nas urnas ou através da competição no mercado livre. O ESG capacita uma cabala não eleita de burocratas, reguladores e investidores ativistas para classificar as empresas com base em sua adesão aos valores de esquerda. Assim como as pontuações de crédito social emitidas pelo Partido Comunista Chinês, uma pontuação ESG baixa pode ser devastadora, tornando praticamente impossível para uma empresa levantar capital – e esse é exatamente o ponto”, diz o candidato não-oficial à Casa Branca.
Essas e outras declarações de políticos influentes nos Estados Unidos deram origem ao chamado movimento Anti-ESG.
Mas, afinal, o que é o Movimento Anti-ESG?
Como já explicamos um pouco do contexto e da origem deste movimento, precisamos saber o que é o movimento Anti-ESG.
Anti-ESG é ser contra o desenvolvimento sustentável da economia do Planeta. Baseado nas premissas do velho capitalismo, o movimento não se preocupa com o esgotamento de recursos para produção de energia e bens de consumo duráveis e não duráveis. O Anti-ESG pode ser visto como um fomento a um mundo de excluídos, mais quente, com escassez de recursos, crises hídricas e extinção da biodiversidade do Planeta Terra.
Ao que tudo indica, os defensores o capitalismo Anti-ESG coloca seus interesses pessoas, financeiros e políticos acima do bem-estar mundial e, por ignorância ou por pura vontade de agradar a uma maioria retrógrada, ignoram os indicadores climáticos divulgados todos os anos.
Sobrou até para a Apple…
Como sabemos, o ESG não se trata apenas de boas práticas sustentáveis no mundo corporativo. Ele diz respeito a diversos fatores e impactos das empresas sobre o meio ambiente, a sociedade e as políticas internas das empresas.
Porém, as práticas ESG vêm incomodando o movimento Anti-ESG até sobre como as empresas que adotam práticas sustentáveis estão contratando seus funcionários. O investidor norte-americano Vivek Ramaswamy e proprietário da gestora Strive, enviou uma carta a Tim Cook, atual CEO da Apple, pedindo para que ele pare de observar a equidade racial na hora de contratar e desconsidere a diversidade nas políticas de remuneração da empresa. Segundo Ramaswamy, o único critério deve ser o mérito.
Ramaswamy atacou até a Disney. Em abril deste ano, uma polemica entre a Disney e o Governo do Estado da Florida sobre questões LGBTQIA+ foi o estopim para Ramaswamy se envolver. Após a divulgação de uma carta do Grupo Disney repudiando a proibição da instrução em sala de aula sobre orientação sexual e identidade de gênero para alunos com menos de nove anos, o CEO da Strive se pronunciou em carta aberta pedindo para que a companhia parasse de fazer declarações políticas.
Conforme dito, Ramaswamy é proprietário da Strive, gestora de ativos voltada para combater o ESG. Até o início de outubro, a Strive de Ramaswamy já atraiu mais de 300 milhões de dólares em ativos.
Além dos casos citados acima, os constantes movimentos políticos dentro do território norte-americano para frear a agenda ESG tem feito com que grandes bancos e investidores fiquem receosos de continuar apoiando empresas que seguem a agenda de descarbonização da ONU.
De acordo com o Financial Times, a litigância anticlimática tem feito com que gigantes como JPMorgan, Morgan Stanley e o Bank of America cogitem abandonar a aliança financeira pela descarbonização (Gfanz) por temerem ser processados nos Estados Unidos.
A polarização atrapalha o desenvolvimento
Segundo o sócio fundador da Fama Investimentos, Fabio Alperowitch, o ESG foi bastante “ideologizado” no Brasil e nos Estados Unidos.
Segundo Alperowitch, direitos humanos e mudanças climáticas não deveriam ser atacados como temas de ideologia de esquerda. Porém, quando isso acontecem, a direita – principalmente seu lado mais extremo – ataca de forma veemente como forma de atingir seus oponentes políticos.
De acordo com Fábio, o ESG vive seu pior momento na história. A agenda fragilizou-se devido a questões como valorização de commodities (minério de ferro e outros), a crise energética na Europa e alta do petróleo em todo o Mundo. Num contexto inflacionário mundial quase que pós-pandêmico, é natural que os investimentos verdes e sustentáveis percam força, abrindo espaço para a volta dos investimentos em combustíveis fósseis.
Conclusão
Toda e qualquer mudança drástica que acomete empresas e a sociedade em geral são traumáticas e difíceis de lidar. Foi assim com as grandes revoluções industriais e diversas outras em toda história humana. A grande diferença é que a mudança que o mundo está vivendo tem o mesmo impacto das Revoluções Industriais, só que na velocidade das evoluções tecnológicas de hoje.
O que todos precisam entender é que o ESG não é um jogo ou uma “pauta” de lado A ou B. A adaptação dos mercados faz-se necessária para o bem-estar e a sobrevivência de todos no Planeta Terra.
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